sexta-feira, 31 de julho de 2015

Fantasias...

Hoje precisava ficar sozinha pela simples razão que os meus pensamentos, por muito tempo, não me pertenciam. Ficar sozinha não significava fazer nada, ficava sim ficar longe de qualquer coisa que pudesse me conectar ao resto do mundo, como se isso fora possível.
Só sei que vesti meu “short” curto e minha camiseta de trabalhadora “do lar”e comecei a cuidar da casa uma vez que na ânsia de estar sozinha dispensei a senhora que limpava minha casa, desliguei o telefone, internet e TV absolutamente proibidas , apenas uma música que ajudava a passar o tempo.
Assim passaram um , mais um e outro cômodo pela limpeza mais rigorosa que eu havia feito sob os acordes de “I wanna hold your hand”  e outras dos Beatles. Senti o suor começar a correr pela minha pele, a me tornar como que molhada a ponto de deslizar as mãos e elas correrem com liberdade tanta que, chegou um momento, eu comecei a gostar de ter minhas próprias mãos em mim e também um sentimento que eu gostaria que mais alguém visse que tinha um extremo prazer em me bastar no meu prazer.
Como a roupa de cama estava para ser lavada, deitei-me na minha cama de casal e comecei a deixar a mente fluir.
Engraçado como  a mente costuma a buscar pessoas e situações que me faziam compor um quadro de exagerada sensualidade, até para meus próprios padrões. Só sei que estava eu e Carla e mais três homens que conhecíamos e sentíamos um tremendo tesão, homens que variavam do corpo atlético ao mais gordinho, com rostos e atitudes que esbanjavam sensualidade como um denominador comum, máximo denominador comum.
Ao imaginar aqueles três homens nus em nossa frente, não pude conter um suspiro que ecoou pelo apartamento vazio e , nem tão pouco, fazer de toda aquela cena uma forma de dominar Carla, de impor à ela a execução das tarefas que desejava que ela cumprisse.
Cena de filme pornô? Pode ser que sim, uma satisfação nada feminista de desejos ocultos... Só sei que pegando os longos cabelos de Carla, enroleio-os em minhas mãos e a fiz ajoelhar.
- Ana! Calma! Por favor....
Não tinha porque ouvi-la , não fazia menor questão de tanto! Só sei que coloquei-a no meio da roda de homens e fiz com que ela provasse cada membro e os deixasse, progressiva e alternadamente rígidos.
Ao pensar nessa cena, o que me dava tesão, na verdade, era o ato do domínio sobre Carla, a imposição da minha vontade, o mandar, ser dona, tomar posse! Como aquela sensação maravilhosa me invadia quando meu dedo tocava meu clitóris inchado e minha vagina úmida como nunca antes!
Na minha fantasia, depois de deixar aqueles homens excitados, não coube à Carla receber aqueles membros eretos dentro de si já que jamais permitiria essa espécie de “profanação” daquilo que me pertencia! Se aqueles homens queriam fartar-se em sua sede quase animal, muito bem, que se satisfizessem comigo! Carla não estava ao alcance deles, era minha, minha posse, minha propriedade e eu a tomei para mim com toda intensidade que eu sei!
Coloquei-me de quatro para ser fodida com raiva e alternadamente por aqueles garanhões que me penetravam com um ímpeto que , para mim, a minha amada não deveria sentir mas deveria, isso sim, sentir meus dedos e minha língua que a sugariam toda à partir dos seios , desceria pela barriga em uma intensidade quase proporcional ao entra e sai que me tomava mas com infinita mais demora e lentidão.

Só sei que aquele corpo que eu desejava hoje era tomado e não me fiz de rogada e senti gostos que apenas tinha sentido semelhantes quando chupava meus dedos que antes estavam dentro de mim. Que sensação absolutamente arrebatadora. Como fazer que o meu agir anulasse a presença de três homens que eu sempre desejava e seguia desejando como doida? 

II

Estávamos conversando, eu e Carla, acerca de algumas coisas que particularmente nos incomodavam e dessa conversa, seguramente, sexualidade foi um dos temas, esse que me fascina, acima de qualquer outro. Dizíamos acerca das expectativas colocadas em nós para cumprir alguns papéis e não outros e disse-lhe com algum tom de tristeza:
- Sempre me acusaram de ser muito masculinizada. Não na forma mas na atitude, na reafirmação do que eu quero. Você sabe que raramente fico esperando, não tenho paciência, tomo a frente e não há nada que me faça muar isso por mais que tenha tentado.
- Isso não é bom?
- Você acha? – perguntei com o tom incisivo de sempre.
- Não sei, não sou assim e olha, fico imaginando que ter um pouco mais de voz seja muito legal. Te admiro nisso...
Olhei para ela como se houvesse dito algo que, em minha opinião, não refletia algo para ser admirado. Não compreendo, sinceramente, como algo a se admirar, ao contrário, seria algo a ser atingido se realmente se quisesse, bastava apenas ter alguma noção e saber pagar o preço que eventualmente pudesse ser cobrado sendo que isso não deveria importar nem um pouco.
- Você não deveria me admirar... – disse com um tom que não denotava desprezo  mas incompreensão.
- Porque não? Você expressa e realiza suas vontades...
- Nem todas...
- Bem melhor do que eu que não expresso e não realizo as minhas...
Pela primeira vez eu vi o fascinante sorriso apagar-se e me senti culpada em haver sido , de alguma forma, a causadora. Eu a amava, sei disso, mas amar não me dava o direito de apagar aquilo que me fascinava acima de tudo.
- Você séria não combina! – disse procurando melhorar a atmosfera.
- Parece que nunca me viu no escritório! – disse retomando o sorriso.
- Escritório, escritório... Aquela não é você! Você é a moça sorridente que não expressa e nem realiza as suas vontades. Qual seria a sua grande vontade agora?
A pele branca de Carla adotou uma cor rosa intenso, o olhar baixou quase imperceptivelmente e me parecia um animalzinho acuado. Levantei levemente o queixo dela e disse:
- Deve ser algo grave já que você ficou vermelha! – e ri.
Pela segunda vez tirei o sorriso dos lábios daquela menina! Ela olhou de um lado para outro, sorrateiramente e , quando menos esperava, sua boca chegou à minha e nos beijamos com uma intensidade que talvez nenhuma de nós esperava. As mãos, livres, apertavam e seguravam os corpos quentes e quase afogueados. Quanto tempo houvera durado aquele beijo? De que importa? Quando ele cessou as palavras mergulharam na garganta, calamo-nos, não havia o que dizer. Coube à ela romper o silêncio:
- Pela primeira vez fui livre! – dizia como uma menina que descobria uma propriedade nova no velho brinquedo.
Eu já a olhava com outros olhos, os do desejo, a da libertadora mas sobretudo a da mulher que via e pensava como o desabrochar de uma flor possa ser ameaçadora. Sempre a quis ter mas quando a tenho , olho e penso se um dia não poderei apagar, por um longo tempo ou para sempre, aquele sorriso. Pela primeira vez eu temi o que mais desejava

terça-feira, 28 de julho de 2015

"Não cederás no que tange ao teu desejo" - Lacan.


Há lugares que fascinam assim como pessoas sem que importe muito seu gênero e quase como ninguém eu sei que é assim. Gosto de pessoas que me colocam um sorriso nos lábios e, elas mesmas, sempre o têm como um bálsamo para a alma da gente como algo que nos aponte para superar uma angústia contínua durante o dia.
Por termos o mesmo primeiro nome, fico eu com ele, e ela com Carla, todas Anas como se pode perceber. Carla é uma energia bruta, primal, impossível de não ser sentida a quilômetros de distância e minha intuição, de algum modo, sabe que ela estará onde pretendia buscar-la, com seu belo corpo e seu sorriso, oh Meu Deus! aquele sorriso que me enche de vontade de beijá-la na boca diariamente e tenho de comportar-me o suficientemente para conservar, de alguma forma, o verniz de boa moça.
No entanto, confesso, fiz de tudo para trazê-la mais para perto de mim, algo com alguns requintes de perfeita manipulação, total dissimulação e muita cara de pau e, para mim mesma, justifiquei aquilo pela necessidade torturante de ter alguém que me fizesse bem ao lado, próxima, a alguns passos de minha mão, sem perceber que, na verdade, estava apaixonada.
Sou extremamente o contrário de Carla, uma mulher que aventura-se a um mundo que não deveria perceber, que mantém-se calada e séria, analítica e silenciosa no momento que todos relaxam-se e sorriem como se fosse uma indesejável sensação de relaxamento. Minhas fotos são sérias permitindo-se um sorriso “monalisa” nada enigmático. Cultivo uma imagem que nem sempre corresponde ao que está na profundidade da minha afetividade.
Um dia convidei Carla à minha casa assim como à vários amigos para tomar sol, estar à beira da piscina e alguns petiscos e bebidas. Confesso que senti muito ciúme de minha amiga, da risada que fascinava as pessoas, que aproximavam-nas , daquele corpo que rendia-se ao sol, um corpo forte, abdome encaixado que me causava tanta inveja mas tanta inveja que sempre que podia ironizava sua forma perfeita.
Com o passar do tempo percebia que aquela admiração de todos por ela me incomodava de uma forma que jamais poderia ser confundida com inveja sim como um “direito divino” de ditar quem, como e porque estar próxima a ela. Locura! Apertava os olhos como querendo afastar aqueles pensamentos de minha cabeça, assim como de uma reação corporal à presença dela.
Tem coisas que em fazem crer que os dados são jogados sem que tenhamos controle deles: encontrei-me com Carla em um lugar mais afastado de minha casa e aplicando um tapa no traseiro de minha amiga disse:
- Menina iluminada! O centro da minha festa!
Ela riu e eu não resisti e me aproximando, segurando a cabeça dela para que não fugisse, dei um beijo com uma intensidade diferente, algo que não era violento mas era firme. Senti que, de alguma forma, ela não repeliu meu beijo, ao contrário, riu e me retribuiu o tapa e disse:
- Sua louca! ... Sua louca! – e rindo , foi-se.

Eu sei que não preciso de bebida alcoólica para tomar minhas iniciativas mas e ela? Receio de que , na verdade, aquela aprovação fosse apenas efeito de bebida o que eu aprenderia, mais à frente, não ser assim.

Bem vindo....

Seja bem vindo ou bem vinda ao blogue. 
Há coisas que acontecem em nossas vidas que queremos silenciar e outras que queremos contar. 
Essa é uma das que quero contar.